sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cotidiano


Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue seu para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto. (Caio Fernando Abreu)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sem nome


Fazia tempo, tempo que não precisava escrever para tentar acalmar as coisas aqui dentro. Fazia tempo que não precisava ouvir o som do teclado para que assim pudesse dormir tranquila sabendo que coloquei para fora tudo que me destruia por dentro. E desse vez, nem sei ao certo o que quero, o que pretendo tirar de mim, para assim, tentar ser mais leve. Pelo menos por 1 segundo.
A loucura me olha de perto, me cerca e me mostra que as vezes o melhor é também o pior. Hoje eu queria alguém, sim esse alguém é você que sempre me escuta, sempre me olha (sabendo de todas as neuroses e loucuras) e mesmo assim, gostando de mim. Mas hoje você não podia (ou não queria o que acaba dando nas mesma), então, poderia ser qualquer um, qualquer um que me deixasse falar, falar, falar, falar... até não ter mais o que falar. Chorar, brigar... e não me julgar. Não quero conselhos, não quero ninguém dizendo que as coisas vão dar certo, não quero saber que é só um dia ruim, porque eu sei que é. O que eu quero é colocar para fora tudo que tem agido como um câncer me destruindo por dentro e me dando essas olheiras horriveis.
Queria me livrar da parte ruim, me livrar de tudo de ruim que sou hoje, me livrar dessa pessoa que não me agrada. O que sou hoje não me agrada. Quero de volta a leveza de outrora, leveza essa que agradava aos olhos mais exigentes e mais do que isso, agradava minha sanidade mental. Leveza essa que não sei onde se esconde, e que por estar assim tão sumida deu lugar a isso que sou hoje. Deu lugar ao ciume doentio que me mata pouco a pouco e a todo o resto que vem com ele. A insegurança, o vazio e tudo mais que prefiro não citar pra não atrair. Não sei o nome disso que estou sentindo, mas sei quem é o culpado: EU!